quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Lições de um sonho em 01/01/2015

A situação desenrolava numa espécie de Tribunal. Havia fila e o juiz dava o veredicto de forma rápida para cada caso apresentado. Era uma espécie de tribunal civil, geralmente com casos de família.

O caso surpreendente foi o de um rapaz que aparentava ter seus 30 anos de idade, cor de pele negra, mas mostrava uma arrogância de quem foi criado em condições abastadas da sociedade sergipana.

Ele estava acompanhado de uma mulher também negra, porém, uns dez anos mais velha e chamava atenção por não ter um dos dentes da frente, o que me levava a concluir que aquela mulher não teve a mesma condição social, financeira do rapaz para sequer ter acesso a dentistas e obter uma boa saúde bucal(talvez não tivesse nem acesso a escova de dentes por boa parte da vida).

O rapaz estava possuído pela fúria no semblante dos olhos e ao ser convocado pelo nome, já foi logo largando uma sacola de roupas e uma caixa de papelão cheia de cds, chutando em seguida e confirmando que era aquilo que a justiça o cobrava.

A caixa e a sacola foram parar embaixo da mesa do julgador que o olhou com desprezo, talvez já demonstrando cansaço com tantos julgamentos naquele dia ou meramente por já está acostumado a ver aquele tipo de situação naquele ramo obreiro.

Como observador, passou-me um filme da vida daquele rapaz. Fotografias do álbum da vida dele me eram reveladas como "slides" e eu percebi que ele foi um menino filho de pais de classe média que estudou em uma escola católica na capital sergipana. Nas fotos aparentava uma alegria de criança, algo que chegava a ser angelical. Ele realmente foi um garoto típico da classe média sergipana, constatava-se isso nas minhas visões.

Foi morar sozinho após sua graduação em Direito, onde precisou contratar alguém para cuidar da casa, organizá-la enquanto trabalhava. Daí onde surge na estória a mulher que o acompanhava no julgamento.

Em suas atitudes, ele se sentia injustiçado, o juiz já tinha sentenciado que ele deveria reconhecer a paternidade de uma criança que a senhora negra que o acompanhava concebeu a pouco tempo.
Ele resmungava quase chorando de raiva. Aquilo chamava a atenção das pessoas que esperavam pela vez na fila.

Sensibilizado, eu tentei acalmá-lo. Fui me aproximando dele lentamente, esperei uma oportunidade em que os olhos deles pudessem se encontrar com os meus para apertar sua mão, tentar passar uma energia de calma e o aconselhar com algumas palavras.

Ele se virou bruscamente e se surpreendeu com a minha presença ali oferecendo a mão, meio que já segurando a dele forçosamente. As palavras foram fluindo um tanto quanto intuitivas.

Pedi calma a ele e que ele evitasse o pensamento precoce equivocado. Melhor seria lembrar que se tratava de uma criança, um filho que no momento ele não estava aceitando, mas que no futuro poderia dar muito orgulho e alegria a ele como pai.

Ainda possuído pela cólera, ele me respondeu friamente: "Isso para mim é indiferente".

As palavras me abateram imediatamente, apesar de ter a esperança como dom e saber que ele iria amadurecer e mudar a opinião quanto aquela criança. 

O inevitável é que fui remetido às palavras que uma pessoa querida tinha me expedido há dias e ecoavam na minha cabeça como grito em caverna: "o amor nunca foi prioridade na minha vida".
Torci para que a segunda estivesse mais equivocada ainda que a primeira. Pedi, por favor, mais amor ao mundo.

Acordei. 

Vim ao computador e escrevi...